sábado, 1 de agosto de 2020

Carta à Éfeso

Porque tanto te enfezo???
Se o que tenho foi o Universo quem me deu
Pouco ou abundantemente, o que carrego é meu
E te confesso que muito disso é partilha
Pois no dia da partida, tudo ficará
E tu em vão verás
Que nada do teu ódio te valeu
E ainda por dentro te doeu
Te roeu as entranhas
Essa gana insana de ser dono de tudo
Sem saberes que não é dono de nada
Nem a pele do corpo levarás
Nem o mínimo fio de cabelo verás
Porque detrás desta porta Éfeso
Tudo mudará
Existe uma lei oculta
Que desconheces de fato
Mais que pelo tato deverias conhecer
De que tudo é breve mais infinito
De que tudo se tem, sem ser dono de nada
A palavra tem valia
Mais ninguém pode compra-la!!!
Percebes agora???
Eu tenho um tino
Quando toca o sino na sinagoga
E agora já é hora de partir...
E tu, quando chegares tua hora de ir
Desfaz-se de tudo que acumulou aqui
Seu ódio pretenso
Sua angustia desmedida
A inveja e a cobiça
Aqui desta porta me despeço de ti
Poderíamos termos sido irmãos
Mais as coisas do mundo muito nos apartaram
Coisas essas criadas para ti iludir
A política e o sermão
O senão de falsa religião
A cor da pele
A distinção
Agora aqui do umbral desta porta
Vejo tudo isso
Estou em paz...